Como fazer o bebê sentado virar e ficar cefálico?
por Betina Foscarini
Qual a posição que o bebê deve ficar dentro do útero para ajudar o parto: cefálico (cabeça para baixo), pélvico (bebê sentado) ou transverso?
O bebê está na posição ideal para o trabalho de parto quando ele consegue ficar de cabeça para baixo, com o queixo encostado no peito e parte da cabeça pronta para passar pela pelve, chamamos isso de apresentação cefálica.
A maioria dos bebês se acomoda nessa posição até as 36 semanas de gravidez.
Nesse artigo você vai aprender:
· Quais os tipos de posição do bebê na barriga
· Qual a melhor posição?
· Porque é importante que o bebê fique cefálico (cabeça para baixo)
· O bebê corre algum risco estando pélvico (sentado) ou transverso?
· Bebê pélvico (sentado) e transverso podem nascer de parto normal?
· Causas do porquê o bebê não vira
· Até quando o bebê pode virar?
· Meu bebê pode mudar de posição sozinho?
· Como fazer o bebê virar (tratamentos)
· Se você ainda não completou 32 semanas e quer ajudar o bebê a virar
· Se você já passou de 32 semanas e o seu bebê ainda não virou
Quais os tipos de posição do bebê na barriga?
O bebê pode se apresentar de três diferentes formas na barriga da mãe: na posição cefálica (a), na posição pélvica (b) e na posição transversa (c).
· Bebê cefálico é o bebê que fica de cabeça para baixo. Em 95% das gestantes, o bebê se posiciona dessa forma no útero da mãe e essa é a posição mais anatômica e favorável para o parto.
· Bebê pélvico também é conhecido com o bebê sentado. Em 4,5% das gestantes o bebê se posiciona dessa forma, que não é tão anatômica e favorável ao parto.
· Bebê transverso, também conhecido como bebê córmico, é o bebê que fica horizontal no útero da mãe, muitas vezes com o ombro travado na pelve. São raros os casos, apenas 0,5% das gestantes e essa posição é uma indicação absoluta de parto cesárea.
Qual a melhor posição?
A melhor posição para o bebê se posicionar na pelve é a posição cefálica (cabeça para baixo), pois essa é a posição anatômica para o bebê conseguir se acomodar de forma mais confortável na sua barriga, a encaixar na sua pelve e, principalmente, para facilitar a saída dele no parto.
Porque é importante que o bebê fique cefálico (cabeça para baixo)
Os principais benefícios é sentir menos desconfortos durante a gestação, já que a posição cefálica (cabeça para baixo) é mais anatômica para o seu bebê dentro da barriga, e facilitar o parto normal, pois esse é o jeito que o seu corpo foi desenhado para saída do bebê pelo canal vaginal e ossos da pelve.
O bebê corre algum risco estando pélvico (sentado) ou transverso?
Não, ele não corre. Fique tranquila.
Bebê pélvico (sentado) e transverso podem nascer de parto normal?
O bebê pélvico (sentado) consegue nascer de parto normal, entretanto é importante saber que para o corpo da mulher é muito mais difícil a saída do bebê sentado.
Parto vaginal de bebê pélvico (sentado) tende a durar mais tempo, ser mais doloroso e tem muito mais risco de traumas na região vaginal, como a laceração perineal (rasgo na região vaginal).
É importante que a mulher grávida tenha a opção de fazer uma cesárea em caso de bebê pélvico (sentado).
No caso do bebê transverso, não há outra opção além da cesárea. Em função da posição, ele não encaixa na pelve, nem consegue passar para nascer via parto normal.
Causas do porquê o bebê não vira:
Geralmente acontece por pouco espaço no útero materno, dificultando a cambalhota pélvica (movimento do bebê para ficar de cabeça para baixo)
· Estresse: o útero é composto por músculos que se tensionam. Quando você está passando por muito estresse, ansiedade, sobrecarga mental e física, isso gera um aumento da tensão nos músculos do útero – e isso diminuiu o espaço do bebê dentro do útero.
· Tensão abdominal: é muito importante que os músculos abdominais tenham força e tensão, por isso nós vamos na academia e malhamos. Entretanto, as gestantes também precisam de relaxamento dessa musculatura. Se o abdominal é incapaz de relaxar, essa tensão pode diminuir a mobilidade do bebê dentro do útero.
· Pouco líquido amniótico (oligoidrâmio): dentro do útero, o bebê fica submerso e envolto em uma bolsa de líquido amniótico. Se essa mãe tiver pouco líquido, essa restrição também pode impedir que o bebê tenha mobilidade e espaço o suficiente para virar dentro do útero.
· Bebê muito grande: quanto maior é o tamanho do seu bebê, mais trabalhoso é para ele conseguir virar dentro do útero. Esse é o caso dos bebês com percentis próximos ou maiores que 90, comum em casos de diabetes gestacional.
· Gemelares: na gestação de gêmeos, uma vez que dois ou mais bebês compartilham o mesmo espaço restrito do útero, isso diminuiu a mobilidade deles e pode impedir que eles consigam virar e se posicionar de cabeça para baixo.
· Idiopática, ou seja, sem causa definida: muitas vezes o bebê simplesmente não vira sem nenhuma explicação óbvia. Essa é uma das grandes razões de incentivarmos que a gestante não se sinta culpada por seu bebê não virar, pois a culpa definitivamente não é dela.
Até quando o bebê pode virar?
Existem bebês que conseguem virar até na data do parto, mas esses casos realmente são a minoria e a exceção da regra.
Como para o bebê virar é importante que ele tenha espaço dentro do útero, sabemos que após as 32 semanas ele começa a ficar mais apertado.
Por isso, após 32 semanas apenas 15% dos bebês consegue virar até a data do parto, sendo que a maioria consegue virar entre 33 e 34 semanas.
Meu bebê pode mudar de posição sozinho?
Sim! É totalmente possível que o seu bebê mude de posição sozinho – inclusive, ele foi feito para conseguir dar a cambalhota pélvica sozinho.
Por isso, algumas coisas são importantes para você levar em consideração:
· Caso o seu bebê já esteja de cabeça para baixo, entenda que sim, o bebê pode mudar de posição. Isso é muito improvável de acontecer após as 32 semanas, pois o bebê já tem pouco espaço. Mas fiz questão de escrever isso para que você não se sinta culpada caso o seu bebê, que estava cefálico (cabeça para baixo) vire sozinho e fique sentado ou transverso. A culpa não é sua.
· Caso o seu bebê não tenha virado sozinho, saiba que você pode dar uma ajudinha extra para que ele consiga dar a cambalhota e fique de cabeça para baixo. Ainda que não seja garantido que ele consiga virar, ajudá-lo a virar aumenta as chances de ele conseguir virar.
Como fazer o bebê virar (tratamentos)
· Versão Cefálica Externa (VCE): é um procedimento realizado pelo médico em que ele, guiado por um aparelho de ultrassom, aplica uma manobra na barriga da mãe na tentativa de virar o bebê – as taxas de sucesso variam entre 30 e 70%.
No Brasil, são pouquíssimos os médicos que fazem VCE. Essa manobra só pode ser realizada após as 37 semanas, pois há risco de desencadear parto prematuro, além de outros riscos como descolamento precoce da placenta, sofrimento fetal agudo e alteração no cordão umbilical.
· Relaxamento abdominal (bolsa do canguru):
A bolsa do canguru é um jeito carinhoso que eu chamo a região da barriga da mãe que é cheia de ligamentos, músculos e fáscias, e que é muito tensa para sustentar o peso do bebê quando estamos em pé.
Entretanto, se essa região tensa nunca relaxar, ela vai reduzir o espaço do bebê dentro da barriga e dificultar que ele fique cefálico.
Uma das formas de relaxar a bolsa do canguru é praticando o que eu chamo de Movimento Materno. Clique aqui para conhecer.
· beber mais água: o bebê fica envolto de uma bolsa de líquido amniótico e, embora não se tenha um tratamento específico para aumentar a quantidade de líquido na bolsa, o mais recomendado é incentivar que a gestante beba mais água para que o corpo tenha “material” para formar o líquido amniótico.
O ideal é de 40ml por kg do peso atual. Ou seja, se você está pesando 70kg, o ideal é beber 2 litros e 800ml ao longo do dia.
Também é importante que a gestante não tome toda essa água de uma só vez, mas que espace ao longo do dia – por exemplo, de 1h em 1h beber um pouco da meta diária.
· controlar o estresse: estresse é tudo aquilo que faz o nosso corpo trabalhar acima da capacidade ideal dele. Muitas mulheres já viviam uma vida muito estressante de trabalho antes mesmo de engravidar, por exemplo. E, ao engravidar, novos estresses surgem (contas, responsabilidades, etc).
Porém, esquecemos que há um outro estresse silencioso, que é o estresse que o corpo passa para “fabricar” um bebê. Isso cansa a beça, mas como o corpo tá trabalhando sozinho, você tem a sensação de que está cansada “sem fazer nada”.
Nesse caso, o primeiro passo é reconhecer que a gravidez não te incapacita de seguir a sua vida como era antes de engravidar, mas que ela, sim, te limita.
Reconheça quando estiver estressada demais e tenha repertório de atividades que te desestressem e relaxem:
Desde prezar por sono de qualidade, a reduzir da carga de trabalho e, sim, praticar exercícios que relaxem o seu corpo através do movimento.
· temperatura quente: você já esteve numa sala com o ar condicionado muito, muito frio, sem casaco ou cobertor?
Quando isso acontece, seu corpo começa a se contrair e se tensionar para produzir mais calor e te aquecer. Porém, é justamente o oposto que queremos para a grávida e o calor é um grande aliado no relaxamento dos músculos!
Por isso, para ajudarmos a relaxar a bolsa do canguru e liberar mais espaço para o bebê virar, evite ao máximo passar frio.
E, na região da bolsa do canguru e na região das costas, invista em compressas de calor, em ducha com água quente na região e até banho de banheira, com imersão do corpo na água quente.
Tudo isso ajuda muito a aliviar a tensão nos músculos que, relaxados, liberam espaço para o bebê conseguir virar com mais facilidade.
· Acupuntura: através do conhecimento da Medicina Tradicional Chinesa, profissionais aplicam agulhas em regiões específicas que, ao estimularem meridianos do corpo, ajudam o bebê a se encaminhar para a posição cefálica (cabeça para baixo)
· Caminhadas: o movimento de caminhar é perfeito por gerar o que chamamos de assimetria de quadril. Ou seja, a cada passo você vai colocando todo o peso numa perna só e isso vai gerando estímulos físicos para o bebê ir se posicionando aos poucos na posição cefálica (cabeça para baixo).
O mais incrível é que a caminhada ideal para a grávida não é aquela rápida, na maior velocidade e menor tempo, mas sim a caminhada constante, no mesmo ritmo e relaxada. Recomenda-se caminhar 30min diariamente.
· Praticar o Movimento Materno: o Movimento Materno é o movimento que o corpo da grávida foi desenhado para fazer. Infelizmente, os tempos modernos chegaram, mas o nosso DNA continua ancestral. Isso significa que nosso corpo não foi feito para ficar sentado 8 a 14h por dia, todo tenso por nosso estresse.
Nosso corpo foi feito para ter mobilidade pélvica e relaxamento e, mexer e relaxar o corpo, é a combinação perfeita para você criar um ambiente favorável para o seu bebê conseguir virar e ficar de cabeça para baixo.
Como não temos como abandonar as rotinas modernas, o ideal é devolver artificialmente, de propósito, o Movimento Materno do seu corpo. Clique aqui para saber como
Se você ainda não completou 32 semanas e quer ajudar o bebê a virar:
Antes de 32 semanas, o seu bebê ainda é pequeno e tem bastante espaço para ficar se movimentando livremente dentro da bolsa de líquido da mãe.
Por isso, o melhor que você pode ir fazendo é ir criando um ambiente perfeito para que o bebê vire sozinho – bebendo mais água, cuidando do estresse e enchendo seu corpo de Movimento Materno.
Se você já passou de 32 semanas e o seu bebê ainda não virou:
As chances são pequenas? São! Mas ainda assim existem chances e eu te recomendo muito, sem te gerar paranoias e estresses, fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar o seu bebê a virar.
Vou te deixar 3 recomendações:
1) cuidar para não entrar em noias e aumentar o seu nível de estresse
2) tomar mais água ao longo do dia – 40ml por kg de peso atual
3) mexer e relaxar o seu corpo para ir criando um ambiente perfeito para ele virar, tanto com caminhadas diárias, quanto praticando o Movimento Materno.
Clique aqui para conhecer o Movimento Materno.
Betina Foscarini é fisioterapeuta pélvica especialista em gestantes pela USP.
Há mais de 5 anos dedica seu tempo a cuidar de gestantes através da internet, somando centenas de alunas ao redor do mundo que fizeram parte do programa Movimento Materno.